Exposição Parto Delas
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Não conseguiria descrever em palavras a emoção que senti ao levar os quadros do Parto Delas para o lugar onde eles nasceram: a Maternidade Bairro Novo. Depois de quase dois anos rodando por aí e espalhando a semente do parto humanizado no SUS, eles retornaram para casa. Já era tempo. Desejo que cada uma das imagens, em cada canto dessa maternidade pública, inspire todos que passarem por esses corredores a acreditar no poder da mulher de parir e na importância do parto com respeito no SUS. E continuamos juntos, assoprando o dente de leão para que esta semente voe cada vez mais longe.
Para o Parto Delas, eu escrevi uma carta. Se ele fosse um filho, assim de carne e osso, seriam estas as palavras que eu diria a ele:
Carta ao Parto Delas
“Quanta coisa vivemos nos últimos anos, meu filho. Depois que você nasceu, nossa vida virou de pernas para o ar. É assim que os bebês fazem com as mães de primeira viagem. Aquela avalanche de emoções que parece nos engolir. Descobertas, sensações, sonhos, medo, lágrimas – ora de alegria, ora de apreensão. Tem hora que a gente acha que não vai dar conta de tudo aquilo. As noites sem dormir, a dedicação, os erros e acertos. É tanto sentimento nesse puerpério. Agora chegamos ao fim desse período tão especial para nós dois. Completamos dois anos. Amadurecemos. Crescemos. Criamos laços profundos. Você é meu filho amado.
Desde que você chegou na Maternidade Bairro Novo, nunca mais minha vida foi a mesma. Junto com você, nasceu uma mãe, uma nova mulher, uma nova alma. Tornar-se mãe nem sempre é fácil. A gente passa a ser completamente responsável por outro ser. O ser que mais amamos no mundo. E isso não é pouca coisa. Nosso primeiro dia na maternidade foi longo. Foram 26 horas de parto. Voltei para casa depois de uma longa noite em claro. Um zumbi. Mas eu era um zumbi feliz, realizado, que descobriu seu propósito de vida.
Durante seis meses te amamentei indo para a Maternidade. Foi uma amamentação compartilhada, que te nutriu na companhia de outras mulheres. Nessa amamentação fiz muitas fotos. Não gosto muito de selfie, você sabe, então fotografei outras mulheres, outras famílias, outros bebês que, de certa fora, te nutriram para que você pudesse crescer lindo como é hoje.
Você foi um bebê precoce, meu filho. Em seis meses, já estava de pé na recepção da maternidade se exibindo com as suas fotos. A gente precisava pagar a impressão das fotos, então um monte de amigos nos ajudou. Eles nem te conheciam ainda, mas se apaixonaram só de eu contar como você era. Na primeira vez que você apareceu na maternidade todo mundo queria te ver. Recebeu visitas importantes. Até do prefeito de Curitiba! Você sempre foi muito exibido. Depois, engatinhando ainda, foi parar no Museu da Imagem e do Som, o MIS. Suas pernas mal firmavam no chão, e você já voava por aí. Você chamou a atenção dos jornalistas e um monte de reportagem começou a ser feita sobre você. Eu contei: 45 vezes que falaram de você nos jornais, nas rádios e nos sites de notícia. Até na televisão você apareceu! No Facebook você fez o maior sucesso também. Lembra daquele primeiro vídeo que fizemos sobre você? Você era um bebê tão lindo que todo mundo começou a compartilhar suas fotos. Nossa, 400 pessoas compartilharam suas fotos em uma semana! Até na Inglaterra você foi parar – uma parteira famosona se encantou por você. Ah, meu filho, me enchi de orgulho!
Mas o mais legal de tudo é esse mundo que se abre quando a gente se torna mãe. Quantas pessoas especiais conhecemos, né? Lá na maternidade, principalmente. Eles sempre nos acolheram com tanto amor. Lembro de uma dessas noites em claro, em que dei um cochilo mal acomodada em um pufe que tem lá na salinha, e quando acordei tinha um cobertor bem quentinho em cima de mim. Era maio. Estava muito frio. Um enfermeira (até hoje não sei quem foi!) me cobriu de amor. E amor e ocitocina são coisas que viciam, meu filho. Eu nunca mais quis sair de lá.
Nesses dois anos nos curtimos um monte. E como passeamos! Recebemos muitos convites de pessoas que queriam nos receber. Então eu te botava no carro e a gente ia! A gente cria os filhos pro mundo, não é mesmo? Prova de amor é deixar o filho ter sua própria existência, correr atrás dos sonhos, crescer. Eu te amo como se ainda fosse o meu bebê, mas sei que você não cabe mais no meu colo. Não é mais uma sementinha. E é hora de te deixar voar, porque você já tem vida própria. Desejo que você vá cada vez mais longe. Que você inspire outras pessoas pelo caminho do amor. Que elas acreditem, vendo você brilhar, que nenhum sonho é impossível. E que junto com cada uma delas, você possa ajudar a construir um mundo melhor. Principalmente para as mães. Você sabe o valor de uma mulher, pois foi através do ventre de uma delas que você nasceu.
Como todo bom filho, à casa você torna. Agora é hora de voltar ao lugar onde você nasceu. Onde tudo começou. E começar a escrever mais um capítulo desta história.
Voa, meu filho.
Com amor,
Lu