O nascimento do Nicolas
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Muitas mulheres terão seus filhos de parto normal. Mas, para algumas, o parto simplesmente não acontece. Algumas vezes por motivos de saúde, ora da mãe, ora do bebê. Ou de ambos. E outras tantas por razões que nem mesmo a equipe consegue explicar. Tinha tudo pra ser parto. E não foi.
Como fotógrafa de parto já acompanhei diversas histórias assim. O casal escolhe a melhor equipe. Lê tudo sobre parto humanizado. Sonha. Vive e revive, por 40 semanas, o dia em que o filho virá ao mundo em um lindo e respeitoso parto humanizado.
E quando chega esse dia, é preciso recorrer a uma cesárea. O sonho do parto que se rompe. E aquela mistura de sentimentos: a alegria pela chegada do filho e o peso do parto que não aconteceu.
Para essas mulheres eu tenho algo a dizer: tá tudo bem. E, de fato, está.
A cesárea é uma cirurgia que salva vidas e que quando bem indicada só traz benefícios para a mãe e para o bebê. Ninguém deveria se sentir menos mãe porque se preparou para um parto, mas precisou de cesárea. E digo isso também para aquelas mulheres que passaram por longas horas de parto, mas chegaram ao seu limite, entenderam que o parto não era mais uma experiência positiva e pediram por cesárea. A exaustão materna existe e é preciso acolher essa mulher. Tá tudo bem.
Vivemos tempos em que o parto humanizado é cada vez mais uma realidade para um crescente número de mulheres. Nunca se falou tanto sobre ele. E nunca se sofreu tanto por ele. O mesmo acesso à informação que empodera mulheres, ironicamente contribui para uma danosa idealização coletiva do parto. Ela se expressa na autocobrança das mulheres para que o parto seja tão perfeito quanto os relatos que ela leu e os vídeos a que ela assistiu. Como se o parto fosse um troféu a ser conquistado a qualquer custo para que você seja reconhecida como uma grande mulher e uma boa mãe. Não. Esse troféu não existe. Ou pelo menos não deveria existir. Seja gentil com você mesma. Tá tudo bem.
Trago aqui a vivência da Renata. A história de parto dela está contada neste vídeo e nestas fotos. Quando nos conhecemos, fiquei impressionada em como ela e o companheiro, Harold, estavam mergulhados com toda a alma e o coração nesse mundo do parto. Foi com essa mesma intensidade que dividimos todas as horas do seu trabalho de parto. E foram muitas.
Ela precisou de uma cesárea. Ninguém sabia ao certo o por quê, mas o Nicolas simplesmente não vinha. Só soubemos no momento da cirurgia. Ele tinha um cordão umbilical bem curto e pra completar estava preso ao pezinho. Talvez fosse essa a explicação. Mas quem de fato irá saber? Nicolas chegou ao mundo na luz de uma cesárea necessária e realizada com muito amor e respeito. E, sim, está tudo bem ter sido assim.
Já está em tempo de celebrarmos a vida. E o nascimento, seja por que via aconteça, é a vida explodindo com toda a sua intensidade. Não deveríamos nunca diminuir a importância desse acontecimento, por mais que o sonho não tenha se realizado exatamente como planejamos.
Desejo que este vídeo seja um afago no coração de todas as mulheres que precisaram ou irão um dia precisar de uma cesárea. Tá tudo bem. Você é uma grande mulher. Você é uma mãe inteira.
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O nascimento do Nicolas
Pais: Renata e Harold
Obstetra: Dra Juliana Chalupe (Grupo Nascer)
Doula: Alline Vieira